Para começar

Bem-vindo às trevas do meu desejo, caro leitor. Inicie sua viagem por aqui: 1 - Natureza

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

2 - Natureza, Parte II


Onde tudo começou, pergunta-me você.

Tenho apenas um nome: Donatien Alphonse François.

Não conhece? Esforce-se um pouco mais. Pelo nome, percebe-se logo que se trata de um francês. Informo-lhe que foi nascido no século XVIII.

Ainda não?

E se eu lhe disser que ele era Marquês? De uma localidade chamada Sade?

Se ainda assim você não chegou ao nome daquele que ainda incendeia meus sonhos, bem, tenho certeza que você mergulha nas letras erradas. Ou, ainda, não sabe onde deliciar-se ou horrorizar-se de verdade.

Deveria tentar Juliette, uma de suas obras mais famosas. Ou ainda, se quiser mergulhar no horror, a obra 120 dias de Sodoma talvez lhe fale mais ao coração.

Ao meu sempre fascinaram os feitos de Justine e Juliette, as irmãs. A primeira sempre ingênua e a outra a encarnação da luxúria e do despudor.

Mas o fato é que os contos de Sade me fizeram penetrar no mundo do sexo selvagem ainda jovem, lendo escondido.

E pelo fato de ler escondido, durante muito tempo, julguei-me estranha, fora de lugar. Até que li uma reportagem em uma revista de circulação nacional, quando adolescente, dizendo que aquilo que fazia sentido para mim – o fato de que eu havia nascido para Dominar – fazia sentido para outras pessoas também. E que, assim como as duas faces de uma mesma moeda, também existiam aqueles que se submeteriam.

Sim, porque para mim, devido ao fato de que a subserviência sempre me pareceu algo menor, reles, a ideia de que realmente existisse quem obedecesse, se submetesse por livre e espontânea vontade parecia pitoresca – até engraçada.

Entretanto, não há como negar: saber da existência destes aliviou meu coração. Mostrou-me que, um dia, eu haveria de ter quem obtivesse prazer em servir-me e nomear-me como nasci para ser nomeada: Mistress.

Ou Senhora. Já disse que lhes deixo escolher.

E tais acontecimentos trouxeram-me até aqui. Até aos meus dois pequenos cães. E a vocês.

Foi um caminho longo, claro. Mas nem por isso menos prazeroso.

Tive muitos relacionamentos baunilha. Amei muito e fui amada.

Entretanto, para alguém como eu, há sempre algo que falta em tais relacionamentos. E durante os mesmos, tive que sufocar, mesmo que um pouco, a Dominadora em mim.

Um pouco, claro – porque, na verdade, possuo uma teoria: homens gostam de serem dominados. Todos eles. E, se ainda não se submeteram, é porque não estiveram sob meus olhos, sob minha influência, sob o meu domínio.

Porque mesmo entre os baunilhas, era inegável o prazer que obtinham quando, por não poder conter-me, dominava-lhes durante o sexo extraindo deles e dando-lhes prazeres – no plural mesmo, porque eram muitos.

Mas, há muito pouco que se pode fazer contra toda uma cultura que lhes pressiona a serem os “machos alfa” e mesmo fruindo nossos relacionamentos, e percebendo que havia prazer e razão em estar sob meu comando, tentavam inverter e perverter nossos papeis e controlar-me.

Ha! Como se isto fosse possível. Ainda não nasceu filho de Adão capaz de domar meus instintos.

E, para todos aqueles que creem na dominância e preponderância masculina há sempre os meus cãezinhos para mostrar-lhes seu lugar.

E quanto aos Mestres? Dominadores como Eu?

Oras, exceções são meramente confirmações das regras.

Porém, é importante que se diga que, apesar dos meus cãezinhos serem machos, não me restrinjo a dominar machos. Fêmeas também me aprazem. Lembro-me bem de um estudo antropológico que discutia uma hipótese: os seres são bissexuais e a sociedade os faz heterossexuais – citava, em especial, o exemplo dos bonobos, macaquinhos muito safadinhos que resolvem seus conflitos através do sexo.

É engraçado, mas se ainda por cima há ciência que me justifique, bem, aí as coisas tomam um verdadeiro ar sublime.

É claro que isto me leva a supor que, se seres humanos fossem assim, como os bonobos, bastaria uma bela orgia e os problemas, por exemplo, entre judeus e palestinos estariam resolvidos.

E a internet?

A maior invenção da contemporaneidade! Não haveria como escrever minhas letras sem mencionar-lhe já que ela haveria de tornar mais simples a aproximação dos pares, iguais, dos versos das moedas: Dominadores e submissos, Senhores e escravos.

E foi assim que conheci meus pequenos cães e assim também comecei a fazê-los meus.

Mas isto eu conto para vocês um outro dia.

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