Para começar

Bem-vindo às trevas do meu desejo, caro leitor. Inicie sua viagem por aqui: 1 - Natureza

terça-feira, 9 de outubro de 2012

4 - Detalhes


“Senhora, por favor, eu... eu...” – disse meu brinquedinho, não apenas com seus lábios, mas também com seus olhos dóceis, de cor azul e profunda.

Ele havia acabado de remover os duros grãos de feijão de seus joelhos após sua primeira lição.

Observei em sua voz o medo de desagradar-me ou de estar transigindo uma de minhas regras (as quais ele não teria como conhecer – havíamos apenas nos conhecido).

Porém, eu estava radiante, feliz. Feliz por ter sentido uma vez mais o poder de controle que posso exercer sobre uma mente, um corpo, um cão. Poderia assim fazer concessões.

“Diga, sei que você quer me perguntar algo.”
“Eu não gostaria de nunca mais te ver. Eu... posso...” - seu nervosismo fez com que sua frase ficasse um pouco confusa, mas a ideia era palpável. Eu sabia o que ele queria.
“Meu MSN?”
“Se a Senhora quiser... Eu ficaria feliz.” – disse ele com suas palavras saindo em um jorro de alívio. A câmera ainda estava ligada a ele, que, do chão, olhava diretamente para ela.

Bem, é difícil explicar como eu me sentia - com uma vontade extrema de falar com ele também. Eu via seu rosto e pensava em como ele estava se expondo para mim, em uma primeira conversa....

“É claro que não! Mas eu terei o seu. Qual é?”
“padavonacook@(...). A senhora vai me chamar de novo? Por favor...”

Sim, eu o chamaria de novo. Mas não lhe diria agora, é claro. A antecipação representa boa parte do desejo, é o que eu sempre digo.

“Você trabalha, cãozinho?”
“Sim, Senhora.”
“Com o quê?”
“Sou uma espécie de cozinheiro.”
“Qual seu horário de trabalho?”
“Saio sempre às 17 horas de casa e às vezes tenho que ir bem cedo ao mercado.”

Estava decidido, falaria com ele em alguns dias -  o que faria com que ele antecipasse e fervesse aguardando nossa nova conversa.

Porém, não lhe disse imediatamente.

Iniciei conversa sobre assuntos outros e me surpreendi. O cãozinho era um grande leitor! O uso correto do pronome oblíquo retornou à minha mente. Ele adorava autores brasileiros e divertiu-se muito falando de Jorge Amado.

Segundo ele, havia descoberto nas letras desse nosso grande autor que a sexualidade brasileira não tem fronteiras e nem ego. Sentia-se livre lendo as páginas de Amado porque era como se elas dessem-lhe permissão para ser quem era, com suas próprias taras e desejos.

Também fiquei sabendo que ele não era exatamente experiente no mundo do BDSM. Ele apenas havia experienciado alguma dominação pela internet. Já havia pagado uma prostitua também – para seu maior desapontamento: a wannabe mistress não havia sido convincente o bastante - e ele sentia que a sessão não havia sido como poderia ou deveria ser.

E mais, ele apreciava não apenas submissão, mas também um pouco de dor. Esta parte, devo confessar, mexeu com minhas entranhas de forma inexplicável. Alguém para ensinar, limites para expandir. Soava delicioso.

Recomendei-lhe a leitura de Justine, já que ele não conhecia meu Marquês da maneira como eu julgaria apropriado.

Já cansada de muita conversa e com o horário de meus próximos alunos chegando, disse-lhe:

“Tenho seu MSN. Não vou adicionar você agora. Todos os dias às 15 horas você deve se conectar e aguardar de joelhos. Se até às 15:10 eu não tiver logado, você pode fazer o que bem quiser. Lembre-se de fazer a barba alguns minutos antes. Odeio cães peludos. Apresente-se sempre nu. Em alguns dias, não lhe direi quantos, no horário que lhe disse, lhe acrescentarei e conversaremos de novo. Isto é uma promessa.”

Vi que ele foi tomado de surpresa por meu tom. Foi engraçado perceber como ele posicionou as duas mãos na mesa do computador, crispando seus dedos e aumentando a rigidez da linha de seus ombros a cada palavra que eu enunciava.

“Entendeu, Cão?”
“Sim, Senhora.”

Desliguei assim que ouvi a última sílaba. Pude apenas saborear na lembrança seu derradeiro olhar de dúvida.

Saboreei a lembrança daquele olhar a primeira vez, no outro dia. Às 15:00. Imaginei como ele estaria, de joelhos, esperando por meu comando.

Mas, ele esperaria mais.

No segundo dia eu não logaria. Tinha alunos de piano naquele horário, portanto, desde o começo eu sabia que demoraria mais que isto para contatá-lo de novo, mas como eu disse, a antecipação, a vontade, é importantíssima para o prazer.

No terceiro dia - o dia em que eu já havia decidido falar-lhe - para minha própria surpresa, eu também antecipava cada minuto que faltava para que eu o acrescentasse à minha lista. Estava realmente impressionada com relação a quanto ele conseguira mexer com meu desejo ao mostrar-se tão submisso.

Não havia, para mim, dúvidas de que ele estaria ali, exatamente como eu havia lhe ordenado, ajoelhado, em frente ao computador, nu e perfeitamente escanhoado.

Às 15:05 loguei e acrescentei seu MSN à minha lista. Assim que seu nome apareceu para mim, simplesmente enviei-lhe:

“Inicie o vídeo. Lembre-se eu quero ver seu rosto.”

E lá estava ele, de joelhos olhando para a câmera, com suas sardinhas levemente destacadas pela aparência recém-barbeada, assim como ordenado.

Seus olhos azuis profundos oferecendo todo um universo a ser explorado. Já sentia minha calcinha úmida de desejo.

“Senhora!”
Silêncio! Não permiti que falasse.”
“...” Ele abaixou sua cabeça, mudo, em gesto de rendição à minha voz.
“Mostre-me o rosto.”
E assim ele fez, sem emitir um som. A pele estava lisa, completamente sem pelos, o que muito me agradou.
“Mostre-me suas mãos.”

Estavam limpas, unhas cortadas. Detesto que não cuidem do próprio corpo – afinal, ele é o centro do meu prazer, deve, então, estar sempre asseado.

“Agora os pés.”

As unhas também cortadas. Mesmo em seus pés havia minúsculas sardinhas. Engraçado como elas concentravam-se em partes específicas: ombros, pés e maçã do rosto. No restante do corpo eram bem discretas e muito clarinhas. Nada que atrapalhasse a estética.

"Vire-se, dobre-se e se exponha. Você já sabe como."

Desta vez ele o fez sem hesitação, abrindo suas nádegas até que eu pudesse ver seu anel rosado. Sorri internamente e deixei que ele ficasse um pouco mais que o necessário para a inspeção nesta posição. Não custava reforçar a lição já aprendida.

“Bom, você está limpo. Mantenha-se assim.” Disse finalmente, apesar de pensar que ele deveria dar um jeito nos pelos espalhados por seu corpo. Jamais gostei de cães peludos.

“Você me obedeceu durante os dias passados? Esteve aqui de joelhos? Fale abertamente.” – eu já sabia a resposta, mas a confirmação da obediência sempre me excita.

“Sim, Senhora. Quase morri de expectativa. Cheguei a pensar que a Senhora não viria. Que não me queria. Que eu não havia sido bom o suficiente...”

Sempre submisso. Meu faro jamais me enganara até agora.

“Lembra-se que eu fiz uma promessa? Jamais quebro uma promessa.” Novamente a mesma vontade de acariciar seus cabelos castanho-avermelhados.

“Como você se barbeia?”
“Barbeador elétrico, Senhora.”
“Se você quer tanto me agradar, vamos começar do começo. Quando eu disser, cão, você late e põe a língua para fora e deixe as duas mãos como patas, suspensas, à frente de seu corpo.”
“Senhora?” Havia espanto em sua voz.
“Algum problema com minha ordem, cão?”
“Não, Senhora. Devo obedecer à minha Senhora sem hesitação.”
“Então, cão, faça como lhe disse. Lata!”
“Au!” disse ele timidamente.
“Você tem problema na voz, cãozinho? Alto!”
“AU-AU.” E colocou a língua para fora.
“Mais alto!”
“AU-AU-AU!” E colocou a língua para fora, posicionou as mãos na frente do corpo, e começou a arfar como um cãozinho.

Ri alto. Não contive minhas gargalhadas. Que figura patética. Alto, de ombros largos, e tão submisso quanto meu vira-latas.

Suas bochechas ficaram vermelhas.

“Agora, ande de quatro.”

Quanto mais ele andava, com a língua de fora, mais eu ria vendo aquela imagem degradante.

“Quero ver seu rabo, cão. Sacode o rabinho pra sua Dona.”

E ele parou com as nádegas viradas para a câmera, no meio do cômodo, e começou a sacudir seu quadril de forma a embalar um rabo imaginário.

Se ele apenas soubesse o que eu planejava fazer em ralação ao “imaginário”...

Sem conter meu riso, mandei-lhe que se postasse novamente de joelhos, frente à câmera.

Seus olhos estavam brilhantes. Seu rosto em fogo de pejo e humilhação.

Parei de rir.

“Você está feliz em agradar a sua Senhora?”
“Sim, Senhora. Como nunca estive antes.”
“Então, vamos deixar você mais a meu gosto. Traga seu barbeador e alguns pregadores de roupa. Ligue o barbeador e posicione-se de forma a que eu possa ver o que você está fazendo. Você tem 45 segundos.”

Em 30 segundos meu cãozinho estava de volta, com o barbeador, colocou os pregadores sobre a mesa e ajoelhou-se.

Ele possuía pelos no peito, como uma pequena nuvem sobre o esterno. Não eram muitos, mas, vocês já abem minha opinião sobre cães peludos.

“Você retirará seus pelos do peito.”
Ele me olhou e seus olhos, pela primeira vez hoje, estavam vidrados, com receio. Oras, temos que nos lembrar que vivemos em um país latino onde homens não depilam – pelo menos, não a maioria deles.

“Alguma dúvida?”
“Senhora?... Eu...”
“Bem, chegamos a um impasse. Odeio cães com pelos  Os do seu peito não serão os únicos que você removerá, fique sabendo. A decisão é sua. A qualquer momento poderemos interromper. Entretanto, saiba que a desobediência a uma ordem tão simples acarretará no fim de nossa conversa. Odeio ser desobedecida. Haverá o dia em que a você será permitido escolher e com meu consentimento, você poderá não cumprir uma ordem. Mas, este dia não é hoje e a ordem não é esta. Esta deve ser obedecida prontamente por meus cães.Ou desista.”

Como resposta ouvi o zumbido característico do motorzinho do barbeador elétrico enquanto ele rasgava um caminho entre os pelos do seu esterno de forma decidida. Ele mordeu os lábios devido à leve dor dos pêlos que estavam sendo extraídos.

Pacientemente aguardei enquanto ele livrava-se deste símbolo de virilidade que todos os homens que conheço cultivam desde a adolescência. Com seus pelos caíam suas lembranças de namoradas ou parceiras que alisavam aquela área para sentir segurança. Caíam as lembranças da alegria de perceber que se estava crescendo e virando-se um homem, quem sabe como seu próprio pai. Eu quase podia ouvir os resquícios de sua memória batendo no chão e virando pó.

“Pronto, Senhora.” Sua voz estava embargada, ele havia, naquele momento percebido que estávamos apenas no começo.

E ele havia escolhido segurar a minha mão e mergulhar nas trevas do meu desejo. Eu já traçava planos para ele.

Mas, não antes do castigo.

“Qual é mesmo meu mantra?”
“Devo obedecer à Minha Senhora sem hesitação.”
“Você o cumpriu hoje, cão?”
Ele engole em seco e responde “Não, Senhora.”

Mas, uma Mistress conhece seus subs – então, ele não sabia, mas seu castigo já estava arranjado.

“Pegue os pregadores. Mostre-os para mim.”

Os pregadores eram de aço, de um tipo incomum. Pareciam possuir muita pressão em suas molas. Imagino que nem mesmo um vendaval arrancaria do varal as roupas presas com eles.

Eram perfeitos.

“Prenda um em cada um dos seus mamilos. Você ficará com eles por um minuto inteiro. Se a dor for mais do que você puder suportar, diga Vermelho.”

Ele olhou para os pregadores. Olhou para mim. O medo era perceptível em seus olhos. E pegou-os prendendo-os como havia sido-lhe ordenado.

Sua pele, a princípio branca, começou a avermelhar-se na área do peito recém depilado. Ele mordia seus lábios com força – eu podia ver a marca de seus dentes.

“Abra os olhos, quero ver sua dor.”

E ele o fez.

E permaneceu quieto. E aguentou por todo o minuto.

“Retire-os.”

Ele os puxou e eu ouvi o estalo do metal. Sua respiração estava ofegante e um pouco de saliva havia escorrido pelo canto de sua boca.

“Esta foi sua segunda lição. Eu lhe procurarei de novo, em, no mínimo três dias. Use este tempo para agendar uma depilação de suas partes íntimas e de suas coxas. Pode manter os pelos do joelho para baixo e do cotovelo até as mãos. Mas apenas estes. Estou encaminhando para seu e-mail uma lista de pequenos objetos que você deverá comprar. Fui clara?”

“Sim, Senhora. A Senhora ordena e seu cão obedece.”

Suas palavras foram uma pontada que se iniciou no meu clitóris e percorreu toda a minha vagina.

Sim, havia alguns detalhes a serem corrigidos no comportamento do meu cão.

Mas quem disse que não seria divertido fazê-lo?

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